Ministra Anielle Franco enfatiza a escuta às mulheres negras em marcha

Véspera do evento em Brasília é marcada por emoção e debates sobre segurança, direitos sociais, racismo ambiental e as lutas por representatividade.

25/11/2025 às 08:00
Por: Redação

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, manifestou profunda emoção nesta segunda-feira, 24 de novembro de 2025, em Brasília, ao recordar a persistente luta de sua irmã, a vereadora Marielle Franco, durante um evento com ativistas do movimento negro. O encontro ocorreu na véspera da crucial Marcha das Mulheres Negras, destacando a expectativa de que as vozes e as demandas dessas mulheres sejam amplamente ouvidas pela sociedade.

 

O momento de reflexão e debate reuniu importantes lideranças, incluindo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e as deputadas federais Benedita da Silva (PT-RJ) e Erika Hilton (PSOL-SP). Organizado pelo movimento “Mulheres Negras Decidem”, o evento precedeu a marcha, que para Anielle Franco, tornou-se um símbolo nacional da luta coletiva das mulheres negras. A expectativa é de uma grande mobilização, com a presença confirmada de representações internacionais.

 

Memória e Reivindicações da Marcha

Anielle Franco ressaltou que a Marcha das Mulheres Negras representa um enfrentamento diário contra múltiplas formas de opressão e serve para honrar a memória de lideranças que perderam a vida nessa causa. Mencionou explicitamente Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro em março de 2018, e Mãe Bernadette, líder quilombola que também foi vítima de assassinato em agosto de 2023, reforçando a urgência dessas questões.


"A nossa expectativa é que, de fato, as pessoas nos escutem, escutem o nosso amor, o nosso apelo e a nossa luta", declarou a ministra Anielle Franco em entrevista à Agência Brasil.


Além da pauta de memória, a ministra destacou a segurança pública como uma das prioridades das manifestantes, fazendo um doloroso paralelo com as 122 mortes ocorridas no Rio de Janeiro durante a Operação Contenção. Ela enfatizou a dor das mães do Complexo do Alemão e da Penha, que participam da marcha, e salientou que educação, saúde, cultura e lazer também estarão entre as reivindicações centrais do evento.

 

Durante o mesmo evento, a ministra Marina Silva trouxe à tona o conceito de "racismo ambiental", que será um dos temas de reflexão da marcha. Este termo descreve a forma desproporcional como grupos vulneráveis, como comunidades negras e indígenas, são impactados pelas mudanças climáticas, sofrendo as consequências mais severas por viverem em piores condições de moradia e infraestrutura.

 


"São os que pagam as piores consequências por estarem nos piores espaços para morar e terem as piores condições de infraestrutura", afirmou a ministra Marina Silva, à Agência Brasil.


Marina Silva também frisou a importância de lutar contra todas as formas de discriminação e pela efetivação dos direitos sociais já estabelecidos por lei, mas que muitas vezes permanecem apenas no papel. Ela argumentou que as mulheres negras devem ter pleno direito ao empreendedorismo, lamentando a desigualdade nas oportunidades e na qualidade do suporte oferecido a elas.

 

Desafios e Conquistas no Ambiente de Trabalho

No âmbito profissional, a ministra criticou a barreira que impede mulheres negras de ascenderem a posições de liderança, tanto no setor público quanto no privado. A opressão no trabalho é uma realidade vivida por mulheres como Pamella de Jesus, paulistana de 32 anos e sindicalista, que viajou a Brasília para a marcha, representando as cerca de 8 mil operadoras de telemarketing em São Paulo, das quais "pelo menos 90% são negras" e muitas, como ela, "mães solo".


Pamella de Jesus relatou as dificuldades da categoria: "Fazemos longas jornadas e recebemos metas inalcançáveis".


Pamella detalhou sua rotina exaustiva, acordando todos os dias às 5h para arrumar a filha de quatro anos antes de ir ao trabalho. Ela reforçou que, apesar da dureza da luta diária, é fundamental continuar reivindicando por melhorias em espaços como a marcha. Como exemplo de conquista recente para a categoria, ela citou a extensão da licença maternidade para 180 dias, que, segundo ela, "faz muita diferença" na vida das trabalhadoras.

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