Marcha Trans e Travesti no Rio clama por direitos e fim da violência

Evento nos Arcos da Lapa destaca Brasil como o país mais letal para essa população e exige políticas de apoio

23/11/2025 às 08:00
Por: Redação

A 4ª Marcha Trans & Travesti foi realizada neste sábado, 22 de novembro de 2025, nos Arcos da Lapa, no Rio de Janeiro, com o tema “Independência não Morte”, reunindo a comunidade para exigir o fim da violência sistemática. O evento ressaltou a urgência de medidas protetivas, dado que o Brasil é globalmente reconhecido como o país mais letal para pessoas trans e travestis, cenário que demanda atenção imediata das autoridades e da sociedade.

 

Os participantes da marcha buscaram amplificar o clamor por apoio às organizações que, apesar dos recursos limitados, dedicam-se incansavelmente à reversão desse quadro alarmante. A mobilização também teve como objetivo principal exigir a garantia e a consequente ampliação de direitos fundamentais para essa parcela da população, que historicamente enfrenta discriminação e marginalização em diversos âmbitos sociais.

 

Apelo contra a negação da existência

O coordenador-geral da Marcha, Gab Van, expressou a preocupação com a persistente hostilidade enfrentada pela comunidade trans. Ele destacou que os corpos trans e travestis continuam a ser alvos de movimentos extremistas, cuja agenda nega a própria existência e os direitos básicos dessas pessoas, com o agravante de serem financiados por recursos vultosos em escala global.


“Os nossos corpos seguem sendo alvo da extrema-direita que nega a nossa existência, financiada com recursos bilionários em todo o mundo.”


 

A relevância da marcha para a afirmação da cidadania pôde ser observada no depoimento de Karyn Cruz, uma mulher transexual que aproveitou a estrutura da Defensoria Pública do Rio, montada no local, para realizar a retificação de seu nome civil. A oportunidade de acesso a esse serviço essencial demonstra o impacto direto de iniciativas como essa, que facilitam a inserção social e o reconhecimento legal da comunidade trans.

 

Acesso à cidadania e afirmação de identidade

São espaços como estes que nos proporcionam protagonismo e nos afirmam e reafirmam nossa inserção na sociedade. A atriz Frida Resende, mulher travesti, também marcou presença na marcha, celebrando o orgulho de sua identidade e a importância do movimento para o futuro da comunidade.


“A marcha é fundamental para o nosso futuro. Para a gente continuar existindo. Por muito tempo eu tive a minha existência reprimida. Estar na marcha é afirmar a minha liberdade.”


 

A urgência das reivindicações da Marcha Trans & Travesti é corroborada por dados preocupantes apresentados pelo Dossiê “Assassinatos e Violências contra Travestis e Transexuais Brasileiras em 2024”, elaborado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). O documento revela que a expectativa de vida da população trans no Brasil é de apenas 35 anos, um contraste drástico com a média nacional, que supera os 75 anos.

 

Dados alarmantes sobre violência e serviços de apoio

Em 2024, a média de idade das vítimas de assassinato foi de 32 anos, e a análise demográfica indicou que 78% dessas vítimas eram pessoas trans pretas e pardas. Além disso, quase metade, 49%, estava na faixa etária entre 18 e 29 anos, evidenciando a vulnerabilidade precoce a que essa população está exposta e a necessidade urgente de políticas públicas eficazes de proteção.

 

Para mitigar parte dessas dificuldades e promover a cidadania, o evento ofereceu diversos serviços essenciais. Durante a marcha, a Defensoria Pública disponibilizou a retificação do nome civil, um passo crucial para a dignidade e o reconhecimento legal de muitas pessoas trans e travestis que buscam sua identidade perante a lei.

 

Em parceria com o ambulatório trans do Hospital Universitário Pedro Ernesto, a Secretaria Estadual de Saúde ofereceu testagens rápidas para Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), além de emitir ofícios de gratuidade para a obtenção de segundas vias de documentos para processos de casamento e união estável. Essas iniciativas demonstram a importância da articulação entre o movimento social e o poder público para o acesso a direitos básicos e à saúde.

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