Adelia Sampaio, pioneira do cinema negro, inspira novas gerações

A cineasta é uma referência pela coragem e inovação ao retratar temas desafiadores

22/11/2025 às 15:33
Por: Redação

Prestes a completar 81 anos, Adelia Sampaio se destaca como uma figura histórica do cinema brasileiro, conhecida por sua ousadia e resistência. Em 1984, ela se tornou a primeira mulher negra a dirigir um longa-metragem no país com Amor Maldito, uma produção que desafiou normas estabelecidas ao abordar o relacionamento entre duas mulheres durante os anos de ditadura militar.

 

Nascida em Belo Horizonte, Adelia passou parte da infância em um abrigo após ser deixada pela mãe, Guiomar, por exigência da patroa para quem trabalhava no Rio de Janeiro. Essa experiência marcada por separações familiares não impediu que Adelia seguisse com determinação sua trajetória cultural e profissional.

 

Infância e inspiração cinematográfica

Guiomar se mudou para o Rio de Janeiro na esperança de melhores condições, mas enfrentou dificuldades ao tentar reunir a família novamente. Foi a irmã de Adelia, Eliana, que conseguiu trazê-la de volta ao Rio, onde a paixão pelo cinema começou aos 13 anos ao assistir Ivan, o Terrível, de Sergei Eisenstein. "Eu saí encantada e disse: 'Eu vou fazer isso'. Riram de mim, mas eu fiz", recorda Adelia sobre o momento que mudou sua vida.


"Eu fui criada num asilo, sem nem saber que cinema existia", relembra a cineasta.


Adelia iniciou sua carreira como recepcionista em uma distribuidora de filmes na Cinelândia, onde se envolveu em várias funções no meio cinematográfico. Aos 22 anos, ela lançou seu primeiro curta, Denúncia Vazia, demonstrando criatividade e perseverança mesmo sem recursos financeiros, foi o impulso de amigos e colegas que tornaram a produção possível.

 

A luta e a inovação no cinema

Enfrentando o cenário de quase nenhuma presença feminina negra na direção de filmes, Adelia resumiu essa experiência como "ser bastarda três vezes". Mesmo assim, sua filmografia desafiou as normativas impostas pela sociedade, criando narrativas autorais e significativas.


"Eu tinha certeza de que ninguém ia me dar dinheiro para dirigir um filme sobre lésbicas, suicídio e ainda uma mulher negra atrás da câmera", disse Adelia sobre os desafios enfrentados com Amor Maldito.


O filme foi realizado com o apoio de amigos e técnicos e acabou sendo classificado como pornochanchada para garantir a distribuição, uma estratégia controversa, mas necessária para colocar a obra no circuito cinematográfico.

 

Herança e influência cultural

Adelia sempre incorporou histórias reais em seu trabalho, como no caso de Denúncia Vazia, que retrata o drama de um casal de idosos despejado. Apesar de sua significativa contribuição, ela só soube que era a primeira diretora negra do Brasil muitos anos depois, através de pesquisas da historiadora Edileuza Penha de Souza, que a tornaram um ícone para novos realizadores.


Adelia expressa sua surpresa ao conhecer o impacto histórico de sua trajetória, afirmando: "Que loucura um país esperar tanto por uma mulher negra atrás da câmera."


A Mostra de Cinema Negro Adelia Sampaio, criada em sua homenagem, tornou-se uma referência importante e atinge sua sétima edição em 2025. Ela reafirma a importância de sua obra e legado na cultura brasileira, servindo de inspiração para cineastas emergentes, além de abordar questões raciais e sociais relevantes.

© Copyright 2025 - Conexão Água Clara - Todos os direitos reservados